Visto tudo isso, fica a pergunta: e o rádio digital?
O rádio nasceu antes da TV, foi pioneiro na comunicação no passado, com suas famosas novelas e o noticiário.
Uma coisa muito importante está sendo feita com o rádio nos últimos tempos: é o processo de Migração de AM para FM. Com ela, a nova rádio em FM passou a ocupar um espaço maior no espectro, de 10Khz para os atuais 200Khz. A cobertura aumentou e a qualidade do áudio melhorou substancialmente.
O rádio sobrevive forte, tem seu espaço no mundo publicitário e no gosto da população. O rádio, entretanto, continua analógico. Penso que é chegada a hora de se repensar a sua digitalização.
Os padrões de rádio digital atuais foram concebidos um pouco antes da digitalização da TV no Brasil, por volta de 2005. Naquela época, o foco da digitalização era melhorar a qualidade de áudio e possibilitar a multiprogramação.
A internet ainda não participava ativamente da vida de todos, como na atualidade. Penso que hoje um padrão de rádio digital deve, não só melhorar qualidade de áudio ou possibilitar a multiprogramação, mas tem que estar integrado à internet. A integração à internet é uma demanda atual e será do futuro. É um caminho sem volta!
Para não ficar fora do “bonde da internet”, as emissoras atuais partiram para os aplicativos nas emissoras.
Neles (aplicativos) é possível ter a rádio na internet, porém de forma limitada, uma vez que, para cada ouvinte conectado, a emissora paga um preço, e o ouvinte também paga para ouvir a rádio, por intermédio do seu plano de dados, seja móvel, seja fixo, na rede WiFi (internet paga).
O broadcast da emissora de rádio possui uma característica que a internet levará algum tempo para ter: a possibilidade de chegar a infinitos receptores em tempo real e de forma gratuita! Isso torna o broadcast imbatível na atualidade, o que dá motivos para o radiodifusor continuar com a outorga do canal.
Para pensar: o dia em que a internet conseguir se igualar às características do broadcast descritas acima, se o rádio ainda se mantiver analógico, o radiodifusor não terá mais motivo para possuir a outorga do espectro.
Quando isso ocorrer, fatalmente o governo tomará o espectro de volta e o licitará para dados. O espectro eletromagnético é um bem finito e, por conseguinte, cada vez mais raro e caro!
A digitalização do rádio vai no caminho também da manutenção da outorga, pois se digital e digital com o DNA da internet, com a evolução do padrão, no futuro a rádio poderá ser também servidora de dados broadcasting, porém gratuitos, sendo superior à internet. Nesse sentido, a passagem da largura da banda da outorga de AM de 10Khz para FM em 200Khz foi um grande ganho também para quem migrou.
Repito: se o rádio continuar analógico e a internet se igualar às potencialidades do broadcasting, a manutenção da outorga deixa de fazer sentido, e esse espectro fatalmente será licitado para dados.
Rádio digitalizado, com DNA da internet
O rádio digitalizado com o DNA da internet evitará que isso ocorra, pois as emissoras já serão provedoras de dados. Sendo assim, acho prudente uma mobilização por parte da parte interessada, que são os radiodifusores. É bom começar a pensar nisso!
O primeiro passo seria uma reunião com as entidades que trabalham com a digitalização da TV, em sua maioria universidades brasileiras. Deve-se perguntar a elas se elas têm capacidade de desenvolver um padrão de rádio digital brasileiro que seja híbrido com o sinal analógico por um tempo e que, na parte digital, seja concebido de maneira a ter o DNA da internet, como está sendo feito com a TV. É preciso saber também quanto isso custaria.
O segundo passo seria discutir com eles sobre os padrões e qual deles poderia ser adaptado, mudando, por exemplo, seu middleware, de maneira que essa mudança possibilite a integração entre o broadcasting e o broadband nos moldes da TV. Lembrando que o Ginga já foi validado para o rádio Digital em trabalhos anteriores e que temos gente ativa nisso na PUC-Rio, UnB e UFRJ, entre outras.
A partir daí, seria possível formatar um modelo de padrão ou de sistema e elaborar uma proposta a fim de apresentá-la para o próximo governo.
O rádio ficou para trás da TV na digitalização. Temos que agir logo. Não podemos deixar a internet se igualar ao broadcasting. Se isso ocorrer, todos nós sairemos perdendo: radiodifusores e fabricantes de equipamentos de broadcasting e a população, que passará a pagar pelo rádio, de alguma maneira.
Fonte: Teletronix
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